Ja imaginou que
incrível seria se as pessoas não precisassem dormir em média oito horas por
dia? Teríamos mais tempo para estudar, trabalhar, encontrar os amigos, postar
fotos no Instagram. Os estabelecimentos funcionariam sem parar e talvez
tivéssemos ainda mais opções de lazer noturno – idem para o trabalho, afinal as
empresas poderiam produzir ainda mais e contratar funcionários para trabalhar
de madrugada.
Em um mundo onde as
pessoas não precisassem dormir, o transporte público não teria sua frota
reduzida à noite, talvez creches, escolas e universidades passassem a funcionar
de madrugada. Nesse mesmo mundo, ninguém reclamaria da falta de tempo e todas
as mensagens visualizadas poderiam ser respondidas na sequência. Talvez a
ausência dessas oito horas de sono resolvesse todos os problemas do planeta. Ou
não.
Se você acha que até agora
a conversa está parecendo um roteiro de ficção científica, saiba que em 2007 um
grupo de pesquisadores descobriu que é possível reverter os danos causados pela
falta de sono em macacos usando um spray nasal feito à base do hormônio
hipocretina. Ainda que os resultados da pesquisa possam parecer animadores, na
prática ficar sem dormir jamais seria um bom negócio.
De acordo com a professora
de Sociologia Mairead Eastin Moloney, da Universidade de Kentucky, nos EUA, as
pessoas não se dão conta da relação que o corpo humano tem com o sono: “Dormir
realmente estrutura as nossas vidas”, disse ela em declaração publicada no Live
Science. E, da mesma forma, nós estruturamos nosso sono de acordo com nossa
rotina social.
Por que é má ideia?
Não dormir não iria deixar
ninguém mais produtivo ou mais inteligente: “É realmente sedutora a ideia de
que nós todos nos tornaríamos mais espertos e mais produtivos, mas esse não é
necessariamente o caso”, alerta Mairead.
A teoria utópica não daria
certo na prática por um motivo relativamente simples: nosso cérebro precisa de
um tempo de baixa atividade para funcionar bem quando estamos acordados. Não
dormir iria sobrecarregar o cérebro e nos deixar estressados permanentemente, o
que dificultaria nossa capacidade de pensar.
É por isso que muita gente
tem boas ideias quando está tomando banho ou fazendo alguma outra atividade
mais tranquila, como uma caminhada: porque esses são momentos pouco
estressantes. De acordo com a psicóloga Linda Sapadin, ter mais tempo não
significa, definitivamente, ser uma pessoa mais produtiva.
É bom desocupar a cabeça
Linda explica aquilo que,
na prática, a gente já sabe: quando temos tempo livre, não pensamos “nossa, que
boa oportunidade para trabalhar mais e mais”. Na verdade, nessas ocasiões,
buscamos relaxar ou fazer alguma atividade recreativa, até porque, como disse a
psicóloga, “não somos máquinas”. Segundo ela, mesmo as pessoas que trabalham
demais ficariam eventualmente saturadas.
Em vez de mais produtivas,
sem dormir as pessoas ficariam mais ocupadas, com cada vez mais tarefas para
realizar. Mairead nos lembra de que é importante deixar o cérebro “desocupado”
de vez em quando.
Teste
A pesquisadora Catherine
Coveney perguntou a um grupo de profissionais de diversos setores o que eles
acham que aconteceria se houvesse uma espécie de remédio para compensar a falta
de sono. Os mais preocupados com a ideia foram aqueles que trabalham tanto
durante o dia quanto à noite, como médicos, enfermeiros e policiais.
Segundo Catherine, esses
profissionais acreditam que ficar sem dormir causaria exploração da força de
trabalho, colocando mais pressão nos trabalhadores, que acabariam tendo suas
cargas horárias aumentadas, o que, logicamente, acabaria prejudicando a saúde
física, mental e social dessas pessoas. E aí, você também não acha que isso faz
sentido?
E tem mais
Quer pensar na questão por
outro lado além de trabalho? Imagine como seria passar mais tempo ainda ao lado
a pessoa com a qual você tem um relacionamento amoroso? Sem dormir, vocês
estariam mais tempo juntos e, possivelmente, a relação seria abalada de forma
negativa. E passar um tempo interrupto ao lado das crianças da família? Será
que não seria exaustivo?
Além disso, Mairead chama
a atenção para o fato de que não dormir diminuiria algumas interações
familiares importantes, como o tempo que os pais passam com os filhos, contando
histórias para que eles durmam. Além disso, refeições em família seriam menos
comuns – aliás, as refeições de um modo geral seriam prejudicadas, pois não
teríamos mais horários padronizados para almoçar e jantar, por exemplo.
No sentido econômico da
coisa, é verdade que ter mais tempo livre seria uma forma de ganhar mais
dinheiro. Do mesmo jeito que seria mais fácil gastar mais dinheiro, desde as
despesas mais básicas, como as refeições extras que faríamos. “Um mundo sem
sono precisaria de mais recursos para continuar funcionando”, disse a
professora.
E as fábricas de colchões,
lençóis, travesseiros, pijamas e afins? Será que continuariam produzindo no mesmo
ritmo? Quantos trabalhadores desses setores perderiam seus empregos? Só nos EUA
são gastos US$ 5 bilhões por ano com campanhas publicitárias voltadas a
produtos relacionados ao sono.
E a saúde, como fica?
Problemas de sono estão
relacionados com condições como a obesidade e doenças cardíacas, e nem mesmo
uma droga capaz de deixar todo mundo acordado a todo o momento iria diminuir os
riscos que a falta de sono traz ao organismo.
Como as pessoas teriam
mais tempo para comer, possivelmente os casos de obesidade aumentariam. E, por
mais que elas pudessem ter mais tempo para ir à academia, a maioria continuaria
fazendo outras escolhas para o tempo extra.
Dormir é fundamental
também para o bom funcionamento de nossa memória, e a falta de sono seria
bastante prejudicial à nossa saúde mental, portanto. Isso sem contar que ainda
não é possível prever os riscos em longo prazo. E aí, você ainda acha que ficar
sem dormir é uma boa ideia?
Fonte:
MegaCurioso
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