Nos últimos anos, pesquisadores que estudam o cérebro implantaram falsas lembranças, provocando alucinações nos pacientes e até enganando o cérebro para ouvir sons que não existem Agora, uma equipe de neurocientistas manipulou neurônios tanto para apagar como para recuperar lembranças, uma descoberta que pode ajudar no tratamento de doenças cerebrais, como o mal de Alzheimer e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

“É uma grande conquista em termos tecnológicos”, comenta Steve Ramirez , aluno de graduação do Departamento de Ciências Cognitivas e Cerebrais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que não fez parte do estudo, mas publicou trabalhos sobre a criação de memórias . “Isso prova que essa possibilidade (de manipulação da memória) não é mais ficção científica e pode ser testada em um laboratório”.

Segundo artigo publicado hoje na revista Nature , uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, implantou uma lembrança em um rato e, em seguida, apagou-a estimulando as conexões (sinapses) entre neurônios em diferentes frequências.

O primeiro passo foi criar uma lembrança por meio da estimulação de um grupo de nervos do cérebro do rato, que correspondia ao som de um tom e foi geneticamente modificado para reagir à luz. Durante o experimento, o rato passou a associar o som produzido pela estimulação das células nervosas ao temor de levar um choque leve nos pés.

Em seguida, a equipe enfraqueceu a conexão entre as células cerebrais responsáveis por apagar essa lembrança. No entanto, eles também conseguiram recuperar a lembrança de medo/dor , reforçando a conexão sináptica por meio de estímulos em uma frequência diferente.

“Podemos formar uma lembrança e, em seguida, ‘desligá-la’ e ‘religá-la’ por meio da conexão seletiva de sinapses “, explica Robert Malinow, professor de neurociência e um dos autores do artigo. “Esse processo reúne uma série de coisas que conhecemos e aprendemos para produzir este efeito. Ele reforça a importância das sinapses e sua capacidade de controlar a memória”.

Malinow afirma que a descoberta pode abrir as portas para a criação de lembranças em seres humanos. No caso do transtorno de estresse pós-traumático, as lembranças de eventos terríveis podem causar ansiedade grave, depressão e outros problemas, enquanto o mal de Alzheimer causa perda progressiva da memória.


No entanto, um especialista acredita que ainda é muito cedo para a criação de memórias em um cérebro artificial. “Não entendemos o cérebro o suficiente para aplicar esses princípios aos computadores “, comenta Mark Mayford , neurocientista do Instituto de Pesquisa Scripps, em La Jolla, na Califórnia “Mas estão tentando inserir alguns princípios em softwares-padrão, como algoritmos de aprendizagem”.

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