Quando inoculados com os
micróbios intestinais de uma mulher obesa, ratos acumularam mais gordura do que
os que receberam os micróbios de sua gêmea idêntica e mais magra.
A descoberta é a mais
recente de uma série de estudos que mostram como as comunidades de
microorganismos do sistema digestivo – o microbioma – podem gerar um grande
impacto na saúde humana. A nova descoberta sugere a possibilidade de prevenir
ou tratar a obesidade manipulando a composição dos minúsculos organismos que
vivem dentro de nós.
“Nos últimos 35 a 40 anos,
o peso dos americanos têm subido continuamente, e atualmente o excesso de peso
no país chega a 2,7 bilhões de quilos”, afirma Ronald Evans, biólogo molecular
que estuda o impacto do genoma sobre diabetes e doenças cardíacas no Instituto
Salk, em La Jolla, na Califórnia. Ele não participou do novo estudo.
“Talvez o microbioma seja
uma parte fundamental desse processo. Seria ótimo se fosse possível cultivar um
microbioma em laboratório para gerar pessoas mais saudáveis. Este estudo
ilustra o potencial e os desafios dessa técnica, mas é um passo importante”,
define Evans.
Apesar de geralmente os genes
serem fixos, cada um de nós carrega 100 trilhões de microorganismos em seu
interior. “Temos dez vezes mais micróbios que células, o que nos torna
‘superorganismos’, compostos por nossos genes e pelos genes do microbioma”,
explica Evans.
O microbioma pode ser
composto por milhares bactérias diferentes, e nos últimos anos, estudos
revelaram que o que comemos influencia os tipos de micróbios que se desenvolvem
no intestino.
Dois artigos recentes,
publicados na revista Nature, mostraram que as dietas ricas em gordura e
calorias foram associadas a microbiomas simples e com pouca diversidade
genética. As pessoas com menor diversidade genética no intestino apresentaram
mais inflamações, mais resistência à insulina e outros sinais de doença
metabólica, mas quando adotaram uma dieta saudável e com pouca ingestão de
gordura, a diversidade da flora intestinal aumentou.
A descoberta enseja a
famosa pergunta do ovo e da galinha. O excesso de peso altera o microbioma? Ou
as alterações no microbioma levam ao ganho de peso?
Para responder a essa
pergunta, uma equipe de pesquisadores coletou fezes de quatro pares de irmãs
gêmeas, uma obesa e outra magra. Em seguida, eles inocularam as fezes em ratos.
Duas semanas depois,
segundo relata a equipe na revista Science, os ratos que receberam o microbioma
“ruim” das gêmeas obesas ganharam 10% mais gordura que os ratos que receberam o
microbioma “bom” – estes continuaram magros.
A dieta também teve
importância significativa. Quando os pesquisadores colocaram os ratos de ambos
os grupos na mesma gaiola, os micróbios “magros” colonizaram os ratos que
haviam recebido originalmente os micróbios “obesos”, evitando que ganhassem
peso. Mas isso só aconteceu com ratos que ingeriram alimentos saudáveis e com
baixo teor de gordura.
“Isso estabelece que os
micróbios podem causar obesidade – pelo menos em camundongos”, afirma Rob
Knight, um dos autores do estudo, da Universidade do Colorado em Boulder. “Além
disso, demonstra que os ratos podem ser protegidos da obesidade por meio da
introdução de uma comunidade microbiana cuidadosamente projetada”. Uma
esperança para o futuro seria uma pílula mágica, capaz de alterar o microbioma
e tratar ou evitar o ganho de peso.
Evans foi mais cauteloso
sobre a interpretação dos resultados. Para ele, o ideal seria comprovar os
mesmos efeitos em seres humanos, não só em camundongos. Além disso, há muitas
questões em aberto sobre a viabilidade do transplante fecal e a melhor forma de
cultivar micróbios.
Por enquanto, o novo
estudo “definitivamente significa que as mudanças no microbioma não só estão
ligadas a alterações da doença, como podem contribuir diretamente para ela”,
explica Evans. “É um passo nessa direção”.
Fonte: Discovery noticias
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