Em 1836, durante uma
caça a coelhos em Arthur’s Seat (Edimburgo, Escócia), um grupo de meninos se
deparou com algo bastante insólito: 17 minúsculos caixões. Com 10 centímetros
de comprimento e 2,5 centímetros de largura, cada um trazia um “boneco” vestido
em trajes com condições variadas de conservação. Atualmente, apenas oito dessas
figuras permaneceram inteiras, embora o mistério permaneça: o que elas representam?
Há, de fato, várias
teorias sobre o porquê do curioso enterro. Fala-se, por exemplo, de marujos com
“mandingas” para tentar ludibriar uma possível morte no mar — e há também quem
encare como algum tipo de bruxaria, cujo significado teria se perdido na história.
Entretanto, uma das hipóteses mais respaldadas relaciona as pequenas figuras
aos assassinatos de 17 pessoas
Conta-se que as pequenas
figuras desencavadas pelos garotos estavam dispostas três camadas, sendo as
duas primeiras com oito em cada e uma única figura solitária sobre todas as
demais. E o mais curioso: as figuras de baixo, obviamente mais arruinadas do
que as demais, haviam sido enterradas primeiro — de maneira que as
investigações tiveram início pela data do “sepultamento” dos pequenos bonecos...
O que já envolveu sua boa dose de controvérsias.
1790 ou 1812?
Um exame mais atento das
roupas que vestem os bonecos remanescentes mostrou que o padrão utilizado para
os tecidos de algodão não era encontrado antes de 1812 — de forma que parecia
pouco provável que o curioso enterro houvesse ocorrido antes disso. Não
obstante, as condições das figuras entalhadas indicava que elas estavam em suas
tumbas há pelo menos 20 anos na ocasião — o que colocaria o ano de 1790 também
em jogo.
De fato, a hipótese mais
aceita é a de que algumas figuras foram acrescentadas bem mais tarde.
Infelizmente, a destruição de mais da metade das figuras impossibilitou a
definição de datas mais precisas. Na verdade, mesmo a possibilidade de enterros
em datas diferentes foi considerada impossível de provar de forma unívoca.
Caixões e figuras entalhadas
A análise dos caixões
revelou se tratar do trabalho de pelo menos duas pessoas — uma dedicada à
caixinha e outra aos entalhes. E mais: ao que parece, os “caixões” foram
totalmente improvisados. Isso porque as dimensões obviamente não foram
planejadas para os pequenos bonecos. Prova disso é que alguns deles tiveram
peças retiradas ou quebradas para que coubessem na pequena caixa de madeira.
De fato, nem mesmo as
próprias figuras parecem ter sido planejadas para o curioso sepultamento.
Conforme revela o site do museu Smithsonian, as figuras possuem estruturas que lhes
permitem ficar em pé — existindo mesmo uma pintura escura nos pés, a fim de
insinuar botas, aparentemente. Ademais, as roupas dos bonecos revelam também
estilos completamente diferentes — afastando, portanto, a ideia de um objetivo
comum.
Os assassínios de Burke e Hare
A teoria mais aceita até
hoje para o que teria motivado o sepultamento dos bonecos tem relação direta
com uma série de crimes conduzidas por dois imigrantes irlandeses em Edimburgo.
No início do século XIX, o
Dr. Robert Knox tinha uma séria carência para suas famosas palestras sobre
anatomia. Apesar do florescimento da medicina, os materiais “oficiais” para
estudo estavam cada vez mais escassos — no que se incluía uma alta demanda por
novos cadáveres para dissecação.
Afinal, grande parte dos
corpos obtidos até então vinham da execução de criminosos convictos, algo que
começou a rarear juntamente com o decréscimo das penas de morte no início do
século XIX.
William Burke e William
Hare tinham a solução: durante 10 meses do ano de 1928, eles mataram 17 pessoas
em Edimburgo — entre prostitutas, bêbados e andarilhos —, a fim de vender seus
corpos para o eminente doutor.
As almas precisam descansar
Embora Burke, Hare e o Dr. Knox tenham respondido por
seus crimes na época, as vitimas, naturalmente, jamais chegaram a ter um
enterro apropriado — o que, de acordo com algumas tradições escocesas, seria o
suficiente para impedir que suas almas pudessem descansar em paz e passar para
o pós-vida.
Bem, foi aí que alguém
percebeu as coincidências entre datas e números. Enquanto que a época bate
razoavelmente — embora com controvérsias — com o período em que ocorreram os
assassinatos, o número de 17 figuras tratou de reforçar a hipótese: poderia se
tratar de um enterro simbólico para as vítimas de Burke e Hare.
A suprema ironia? William
Burke foi preso, julgado e condenado à morte... E seu corpo foi encaminhado
para utilização em estudos anatômicos.
Fonte: MegaCurioso
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