Quase todo
mundo tem um celular, e há alguns anos, o temor de que os campos
eletromagnéticos (CEMs) dos telefones sejam cancerígenos criou um enorme
mercado potencial.
Alguns
consumidores usam fones de ouvido para falar ao celular, outros compram
protetores especiais que são inseridos nos celulares e supostamente bloqueiam
as ondas eletromagnéticas nocivas.
No início
desta semana, na seção Ciência do New York Times, um anúncio de página inteira
divulgava um certo Aires Shield, que promete “neutralizar a radiação nociva”
dos celulares. Segundo o material promocional, a radiação pode causar
depressão, estresse, dores de cabeça, insônia, depressão e até câncer no
cérebro.
Disponível
em uma ampla variedade de modelos, que custam entre 39 dólares (Aries Shield,
“um microprocessador de silício que decompõe oscilações nos campos
eletromagnéticos”) a 249 dólares (Aires Defender Utility, “com dois
microprocessadores de última geração, que fornecem proteção universal contra a
poluição eletromagnética das frequências de banda larga”).
O conteúdo
do site da empresa discorre sobre hologramas, modelos fractais e energias.
Apesar da aparência arrojada, há razões para desconfiar de que o Aires Shield e
outros escudos antirradiação não estejam à altura do que prometem.
Por
exemplo, embora o anúncio afirme que o produto é “premiado e clinicamente
aprovado”, não há nenhuma informação ou evidência disponível que comprove
cientificamente sua eficácia. O site está repleto de erros ortográficos, o que
é bem estranho para uma empresa multinacional de alta tecnologia.
A página
“Pesquisas”, por exemplo, afirma que “A Aires Technologies são mais de 12 anos
(sic). Durante esse período, foi realizada uma série de estudos sobre os
mecanismos de transformadores coesos, com efeito sobre os processos físicos,
químicos, tecnológicos e biológicos. Os estudos foram realizados em estreita
colaboração com as principais instituições acadêmicas e de pesquisa”.
Há poucas
referências a estudos já publicados ou artigos científicos que comprovem que o
blindagem da Aires (ou qualquer outra) realmente funciona. A página
“Pesquisas” contém uma lista impressionante de estudos que parecem científicos e descobertas que demonstram a importância de produtos do gênero contra a radiação dos celulares – por algum motivo, todos da Rússia.
A maioria
das pesquisas é atribuída a uma certa “UPEPP”, provavelmente a Universidade
Politécnica Estadual de São Petersburgo, e algumas delas teriam sido realizadas
pela Academia Médica Militar de Kirov. No entanto, não está claro por que uma
academia militar conduziria testes clínicos sobre radiação de celulares de uso
civil. Os nomes dos cientistas responsáveis foram omitidos, assim como quaisquer
resultados publicados.
Recheada de
fotos aleatórias de bancos de imagens e ilustrações genéricas de cientistas,
laboratórios e cérebros, a linguagem do site é intencionalmente complicada,
entremeada por jargão médico. Na verdade, até uma leitura superficial dos
estudos citados desperta suspeitas, sugerindo que a informação não é
confiável. Por exemplo, um dos “estudos” afirma que “um organismo humano
vivo consiste principalmente de água (95% de água na infância e 60% na
velhice)”.
W. Kim
Johnson, físico aposentado e ex-presidente da Academia de Ciências do Novo
México, analisou o site da Aires para o Discovery Notícias e afirmou que o
material é “balela”. “Os autores da descrição técnica do dispositivo da Aires
parecem usar uma seleção aleatória de termos técnicos. A descrição do
dispositivo é puro jargão e, no fim das contas, não quer dizer nada”.
“Por
exemplo”, cita Johnson, “o que uma estrutura fractal tem a ver com um
holograma? A resposta é, naturalmente, nada que seja visível. Em seguida, vem
uma explicação complicada sofre os ‘efeitos psicoemocionais’ dos celulares em
seres humanos devido a emissões de baixa frequência. Isso também é balela.
Resumindo, é conversa pra boi dormir, mas pode enganar quem não tem formação
científica”, alerta.
O fato de o
produto ser descrito como “gadget” dezenas de vezes nos supostos estudos é mais
um indício de que algo está errado. A maioria dos editores de prestigiadas
revistas médicas desaprova autores que se referem a equipamentos médicos
complexos como “gadgets”.
O Aires
Shield pode até ser um produto autêntico, mas as informações do website só
comprometem sua credibilidade.
Segurança
no celular
O fato é
que a blindagem contra a radiação eletromagnética é desencessária porque os
celulares não são perigosos. E os cientistas citam várias razões para os
mecanismos que supostamente prejudicam a saúde serem cientificamente
improváveis.
Para
começar, os campos eletromagnéticos gerados pelos celulares não são potentes o
bastante para romper as ligações moleculares e químicas nas células humanas e,
portanto, não podem danificá-las como a radiação ionizante. Além disso, os
campos elétricos gerados pelos celulares são muito mais fracos que os que
ocorrem naturalmente no interior do organismo.
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