Recentes tiroteios em escolas renovaram a necessidade de leis para o controle de armas e medidas de seguranças. Mas em um dos últimos casos, o menino que matou um professor antes de atirar em si mesmo, nos Estados Unidos, tinha apenas 12 anos, o que também levanta questões sobre o desenvolvimento do cérebro. Como uma criança pode ter tamanha falta de empatia?

Pesquisas recentes ajudam a explicar o que parece inimaginável. Psicólogos falam em dois tipos de empatia, a cognitiva e a afetiva. Simplificando, a empatia cognitiva é a capacidade intelectual de compreender o ponto de vista dos outros, enquanto a afetiva é a capacidade emocional de reagir aos estados mentais das outras pessoas.

As meninas parecem desenvolver a empatia cognitiva aos 13 anos, mas a maioria dos meninos não mostra sinais desse desenvolvimento até os 15 anos de idade. Segundo um estudo realizado ao longo de seis anos, publicado recentemente na revista Developmental Psychology, a empatia afetiva dos meninos se aprofunda entre os 13 e os 16 anos de idade.

Em seu laboratório na Universidade do Oregon, a professora-assistente de psicologia Jennifer Pfeifer percebeu mais uma característica relacionada à empatia: a conexão entre a experiência de uma rejeição e, posteriormente, o impulso de correr mais riscos que o habitual. Ela observou a atividade do cérebro de adolescentes durante um jogo que consistia em pegar uma bola gerada pelo computador. A certa altura, o computador parava de jogar bola com a pessoa e passava a jogar sozinho. Os indicadores neurológicos de angústia surgiam quando a pessoa notava que havia sido excluída. Depois, os adolescentes rejeitados participavam de outro jogo, acreditando que haviam sido rejeitados pelas “pessoas” que os observavam. Esses adolescentes assumiam, então, mais riscos do que aqueles que não haviam sido rejeitados.

A base neurológica da empatia pode estar no sistema de neurônios-espelho. Essas células nervosas são ativadas durante a realização de uma ação ou ao observar alguém que realiza uma ação. Segundo Pfeifer “a questão é muito debatida, mas evidências sugerem que o sistema espelho funcione de forma atípica no autismo”.

Os pesquisadores estão apenas começando a explorar métodos de reparar o sistema quando ele funciona mal. “Também há evidências de que existam grandes diferenças individuais quanto aos sistemas envolvidos na reação de ver outra pessoa em perigo” explica Pfeifer.

Roger Griffin, professor e especialista em terrorismo da Universidade Oxford Brookes, Inglaterra, entende os desafios de compreender a empatia, tanto do ponto de vista pessoal, como do profissional. Autor de “Terrorist’s Creed: Fanatical Violence and the Human Need of Meaning”, ele sabe que a violência fanática e o assassinato sociopata geralmente envolvem uma disfunção da empatia. Vendo como os meninos da idade de seu filho (14 anos) se comportam com os colegas e os pais, Griffin percebeu a ocorrência de lapsos ocasionais nos quais a empatia é substituída por violência verbal e ameaças físicas, mesmo naqueles bem ajustados, socialmente bem integrados e academicamente bem sucedidos. Ele acredita que esse padrão é alimentado pelos videogames que enaltecem a violência e a criminalidade.

Griffin afirma que “a capacidade de empatia é suspensa, ao menos temporariamente, em um momento de violência. Os seres humanos têm uma capacidade inquietante de criar um espaço imaginário onde uma categoria ou parte do mundo é substituída por uma consciência simbólica. Dessa forma, você não está matando uma pessoa, mas o símbolo daquilo que você odeia. Assim, se você odeia a escola, pode matar um professor”.

Ele aponta que isso se mostra em diversos casos de assassinatos em massa e atos terroristas; as Torres Gêmeas, por exemplo, simbolizavam o capitalismo ocidental e ofuscavam os seres humanos que ali trabalhavam. “Esse é um poderoso tributo à complexidade da imaginação humana, mas quando algo dá errado, é aterrorizante”.
A pesquisa pode ajudar a compreender como a violência extrema ocorre, e também pode ser usada para descobrir formas de ensinar empatia. “Podemos ter que ensinar as crianças de formas diferentes. Os sistemas podem ser flexíveis em diferentes períodos” acrescentou Pfeifer. Ensinar empatia e inteligência emocional é, obviamente, apenas uma parte da solução do extremamente complexo quebra-cabeça da violência. “Pais e professores devem educar proativamente as crianças, mas nem tudo pode ser evitado” completou Griffin.




    Fonte: Discovery noticias


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