Ao longo
dos últimos 20 anos, a escrita ficcional produzida por jovens tornou-se menos
criativa, mais linear e menos susceptível a conter elementos mágicos, relata um
novo estudo. Já as obras de artes visuais produzidas por adolescentes
tornaram-se mais complexas e sofisticadas.
“Em relação
à escrita, é difícil não questionar as mudanças no sistema educacional dos
últimos 20 anos, sobretudo com o advento do programa No Child Left Behind, que
enfatizou o ensino para a aprovação”, afirma Katie Davis, da Universidade de
Washington, especialista em desenvolvimento humano e educação que analisa como
a mídia digital afeta os jovens do país. ”A ênfase na redação de cinco
parágrafos e em estruturas lineares não deixou muito espaço para a exposição a
riscos”, acrescenta. “Incentivar qualquer tipo de expressão criativa é muito
difícil na era atual, em que há muito em jogo nesses exames”.
A
imaginação e a criatividade são essenciais para alimentar inovações e
estratégias pouco ortodoxas de resolução de problemas no mundo dos negócios,
cultura e até mesmo esportes. Mas embora os cientistas tenham se dedicado
durante mais de cem anos a refinar os meios de mensurar a inteligência, o foco
na compreensão da criatividade só começou há apenas 15 ou 20 anos, recorda
Jonathan Plucker, psicólogo educacional da Universidade de Connecticut, em
Storrs.
Atualmente,
o padrão mais aceito de avaliação da criatividade é o Teste Torrance de
Pensamento Criativo, que avalia a originalidade na criação de usos incomuns
para canetas e outros objetos cotidianos. Segundo um estudo publicado em 2010,
desde 1990 as pontuações desse teste têm diminuindo nos Estados Unidos. A
revelação estampou as manchetes dos jornais e alimentou temores de uma “crise
de criatividade” no país.
Temendo que
o teste de Torrance não traduza as situações da vida real, Davis e seus colegas
reuniram textos e quadros produzidos por adolescentes ao longo de um um período
de 20 anos, começando em 1990. Nesse intervalo, a internet se popularizou e o
foco foi desviado do sistema educacional dos Estados Unidos. O objetivo dos
pesquisadores era descobrir como essas tendências poderiam influenciar a
produção criativa dos jovens.
Para isso,
a equipe reuniu mais de 350 obras publicadas em uma revista chamada Teen Ink,
com textos, fotos e desenhos produzidos por adolescentes desde 1989. Metade foi
criada no começo dos anos 90, e a outra, mais recentemente. Dois artistas
plásticos treinados avaliaram cada obra de arte usando uma série de códigos,
que avaliaram a composição de fundo, a abordagem estilística e outros detalhes.
Comparadas
à arte produzida há duas décadas, as obras recentes tendiam a preencher toda a
tela e incluíam traços mais estilizados. As figuras eram colocadas fora do
centro e incluíam colagens, objetos encontrados e manipulação digital. Segundo
Davis, todos esses detalhes sugeriram um aumento da criatividade, provavelmente
pela maior exposição proporcionada pela Internet a uma grande variedade de
obras de arte inspiradoras. Atualmente, também há muito mais opções disponíveis
para se produzir arte no computador.
Já a
escrita criativa mostrou a tendência oposta. Quando os pesquisadores
codificaram e compararam 25 histórias recentes com 25 antigas, publicadas em
uma revista anual literária por uma escola de artes criativas de New Orleans,
descobriram que os textos antigos eram mais experimentais.
Uma
história do início dos anos 90, por exemplo, descrevia um personagem que
visitava um psicólogo que era um caranguejo. No final da história, o
protagonista agarrava o caranguejo com um par de pinças e o jogava em uma mala
, dizendo: “Esta noite, vou jantar caranguejo cozido”!
As
histórias mais recentes tendiam a se basear na realidade, com cenas monótonas
de jantares de Ação de Graças e disparos acidentais. As histórias recentes
também progrediam em ordem cronológica, em vez de dar saltos no tempo.
Os
professores não devem ser responsabilizados por priorizar os padrões em vez do
pensamento criativo, sugere Plucker. Para que possamos ver um renascimento da
criatividade, todo o sistema educacional precisa mudar, no sentido de dar aos
alunos liberdade para explorar novas ideias. Quer a criatividade seja
aprendida ou determinada geneticamente, as evidências sugerem que todos nós
estamos subutilizando nossa imaginação, acrescenta.
“Analisem
qualquer sistema de responsabilidade do Estado, como o No Child Left Behind, e
me mostrem um único indicador de criatividade ou resolução de problemas”,
desafia Puclker. “Eles não estão lá. Isso é tudo de que precisamos saber”.
Fonte:
Discovery noticias
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