Você provavelmente já
utilizou o termo “boicote” ao protestar por alguma coisa que não concordou. Por
exemplo, o preço daquele chocolate que você adora subiu demais, “vamos
boicotar!”. O garçom da pizzaria da esquina atendeu mal um amigo seu, o que
vocês fazem? Boicotam.
Boicotar é abster-se, é
evitar, voluntariamente alguém, algum serviço, algum produto ou mesmo um local
como uma forma de protesto. Mas você sabe de onde veio o termo “boicote”? Para
contar essa história voltaremos à Irlanda ao século XIX, época em que tal
capitão Charles C. Boycott vivia.
A guerra das terras
De acordo com um artigo do Today
I Found Out, naquele tempo, a situação no país não era nada boa, sendo que
apenas 0,2% da população era proprietária de algum pedacinho de terra. Tudo
porque a maioria dos proprietários também nem viviam em território irlandês e
alugavam as suas terras para locatários arrendarem, geralmente com contratos de
um ano, o que tornava tudo ainda mais complicado.
Essa época ficou conhecida
como Guerra das Terras, que foi quando, finalmente, os locatários resolveram se
rebelar contra o domínio dos proprietários dos lotes. Então, em meados do
século XIX, esses inquilinos/colonos se uniram para alcançar três metas
principais: aluguel justo, firmeza de posse e venda livre.
O início do boicote
Uma organização de
locatários que buscava essas três metas e se destacou bastante na época foi a
Liga Nacional Irlandesa de Terras. Em setembro de 1880, o líder dessa liga, o
membro do parlamento Charles Stewart Parnell, estava discursando para os
membros da organização.
Nessa ocasião, Parnell
sugeriu que qualquer arrendatário que tentasse invadir a terra de outro
inquilino que houvesse sido expulso, deveria ser evitado por todos, em vez de
morto (como era de costume em muitos lugares). Ele disse nas seguintes
palavras:
Evitá-lo na feira, no
campo, no mercado e até mesmo no lugar de culto, deixando-o sozinho, isolando-o
do resto do país, como se ele fosse o leproso. Você tem que mostrar a ele o seu
ódio do crime que ele cometeu.
Como você pode perceber
nesse discurso, essencialmente, Parnell estava propondo um boicote, mas não
ainda utilizando esse termo, que só viria algum tempo depois, mas não muito...
Mais precisamente, apenas duas semanas depois, o termo passaria a ser usado com
veemência.
Boycott entra na História (para nunca mais sair)
Nessa mesma época, o
capitão Charles Boycott, agora aposentado do serviço militar, estava
trabalhando como agente de terra para o terceiro conde de Erne (ou Lorde Erne),
John Crichton. Como as colheitas tinham sido muito escassas naquele ano, Lorde
Erne ofereceu aos seus inquilinos uma redução de apenas dez por cento em seus
aluguéis.
Os inquilinos não
aceitaram e exigiram que a redução fosse de 25%, o que o Lorde recusou. Então,
seu agente de terra, Boycott, tentou despejar onze inquilinos inadimplentes das
terras do conde. Tendo como referência o discurso anterior de Parnell, embora
ele não se referisse aos proprietários ou agentes de terra, a tática foi
aplicada pelos colonos diretamente para Charles Boycott.
Boycott começou o processo
de envio de ordens de despejo para quem não tinha contribuído no aluguel,
mandando a polícia junto. E o povo se irritou. Os inquilinos se tornaram hostis
quando as ordens de despejo tentavam ser entregues, atirando coisas, até que a
polícia deixou de ser capaz de atender todos os avisos.
Mas para uma pessoa ser
despejada, ela precisava receber a notificação e a revolta do povo fez com que
isso não acontecesse. Sem os avisos entregues, ninguém teve de deixar suas
casas. Logo em seguida, os inquilinos decidiram usar a proposta de ostracismo
social do discurso de Parnell contra Boycott e quem trabalhava para ele.
Com isso, em pouco tempo,
aqueles que trabalhavam para Boycott começaram a deixar o seu serviço, pois
eram coagidos, ameaçados ou mesmo ignorados.
Boycott vira verbo
Além da ação da população
de inquilinos, outras empresas também deixaram de fazer negócios com Charles
Boycott. Para ter uma ideia, ele não podia sequer comprar comida localmente. Se
locomover para longe de lá também ficou difícil, pois motoristas de carruagens
e capitães de navios também passaram a evitá-lo. A coisa estava feia para
Boycott.
No final de novembro de
1880, toda essa situação complicada levou Boycott a ser forçado a deixar a sua
casa, fugindo para Dublin. Porém, ele não encontrou tranquilidade por lá
também, pois foi recebido com hostilidade e as empresas que antes estavam
dispostas a negociar foram ameaçadas de serem "boicotadas".
Então, a prática do
boicote se espalhou naquele país e, em cerca de uma década, toda vez que uma
empresa realizava algum negócio que gerava a antipatia da Liga Nacional Irlandesa
de Terras, ela era boicotada. Então, depois disso, o termo passou a ser usado
para todo o tipo de abstenção voluntária como forma de protesto ou isolamento
organizado: o boicote (em inglês, o termo ficou "boycott" mesmo).
Fonte:
MegaCurioso
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