O nariz humano pode distinguir cerca de 1 trilhão de odores diferentes, segundo pesquisa divulgada recentemente na Science. O número é bem superior ao que era estimado até então, de cerca de 10.000 aromas.

Os cientistas que estudam os cheiros suspeitavam de um número elevado há algum tempo, mas poucos estudos haviam conseguido explorar os limites da capacidade sensorial do nariz humano. “Isso estava ali o tempo todo esperando que alguém o fizesse”, diz Andreas Keller, co-autor do estudo e pesquisador de olfatos da Rockefeller University em Nova York.

Para investigar os limites da capacidade humana, Keller e seus colegas prepararam misturas de aromas de 10, 20 ou 30 componentes selecionados de uma coleção de 128 moléculas de odores, para criar odores não usuais ao olfato humano. Então, eles pediram a 26 participantes da pesquisa para identificarem a mistura que cheiravam diferente, em um grupo onde dois dos três aromas disponíveis eram na verdade o mesmo.

Baseado nos resultados, os autores do estudo calcularam o número de misturas possíveis que o nariz humano poderia detectar: ao menos 1 trilhão. O resultado deixou os pesquisadores entusiasmados.

Nariz supera o olho e o ouvido

O nariz humano possui cerca de 400 tipos de sensores de odores. Quando o cheiro de um café chega à sala, por exemplo, receptores específicos no nariz detectam os componentes moleculares do odor, habilitam uma série de respostas neurais que chamam sua atenção ao café. Mas muitos detalhes de toda essa sequência ainda são desconhecidos pela ciência.
Já o olho humano possui três receptores de luz que, juntos, são capazes de identificar até 10 milhões de cores. Por sua vez, o ouvido é capaz de identificar quase meio milhão de tons.

Até então, acreditava-se que o nariz, com seus 400 receptores olfativos, poderia detectar cerca de 10 mil aromas distintos. Tendo esse número revisado para cerca de 1 trilhão para uma péssoa média, o nariz supera o olho e o ouvido em termos de números de estímulos capaz de detectar.

É verdade que alguns animais são duas ou três vezes melhores do que nós em relação a sentir cheiros, mas a capacidade do nariz humano não pode ser subestimada. Talvez o olfato seja o sentido humano mais apurado.
A complexidade dos aromas

Segundo Noam Sobel, um neurocientista da Weizmann Institute of Science in Rehovot, em Israel, ainda não está clara a relação do número de odores que o olfato humano pode detectar e o número de recepctores do nariz. Alguns cientistas assumem que, quanto mais receptores, mais aromas são detectáveis.

Mas a questão é ainda mais complicada. É difícil “organizar” os odores em uma escala, assim como fazemos com os sons ou com as cores. Os cientistas conseguem classificar os odores em categorias, mas a relação entre essas categorias ainda não é clara. Sendo assim, é difícil em termos práticos comparar objetivamente o de um perfume X com um perfume Y, por exemplo.

“O cheiro característico da rosa, por exemplo, tem 275 componentes, mas apenas uma pequena porcentagem deles é percebida. Isso faz com que o olfato seja muito mais difícil de se estudar do que a visão e a audição, que nos obrigam a detectar variações em uma única dimensão”, explica Leslie Vosshall, cientista da The Rockefeller University.


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