Quase dois
terços dos pais subestimam o peso de seus filhos, e metade não reconhece que
estão acima do peso ou obesos, relata um novo estudo publicado na revista
Pediatrics.
A equipe de
pesquisadores analisou 121 estudos, contendo mais de 80 mil estimativas de pais
e mães, e concluiu que “metade dos pais subestimou o estado de
sobrepeso/obesidade de seus filhos, e uma minoria significativa subestimou seu
peso normal”.
Os
resultados surpreenderam, diante da crescente preocupação com a saúde infantil
e com a adoção precoce de hábitos saudáveis.
Não
reconhecer o excesso de peso dos próprios filhos parece absurdo em uma
sociedade “gordofóbica”. Afinal, os norte-americanos não estão sempre julgando
a si mesmos e aos outros por cada grama indesejada?
Na verdade,
não. Dois terços dos adultos estão acima do peso, e há mais mulheres obesas que
homens, mas menos de 25% está fazendo dieta. Apenas uma minoria adota uma dieta
saudável e menos de 30% pratica exercícios regularmente.
O novo
estudo confirma os resultados de pesquisas anteriores, mostrando que os pais
tendem a subestimar o peso dos filhos e que a maioria das pessoas subestima o
próprio peso.
Um estudo
de 2010, publicado na revista Obstetrics & Gynecology, constatou que
quase 40% das mulheres com excesso de peso e 10,5% das mulheres obesas
acreditam estar abaixo do peso ou com peso normal. Um dado surpreendente:
apesar de a maioria das mulheres se achar gorda, apenas 16% das entrevistadas
com peso normal se via acima do peso.
Existem
várias explicações para essa distorção da percepção corporal, incluindo a
exibição de pessoas com obesidade mórbida nos meios de comunicação, o que pode
confundir os telespectadores.
Os participantes
do reality show “The Biggest Loser”, por exemplo, não estão só com alguns
quilinhos sobrando: eles chegam a pesar duas a três vezes mais que uma pessoa
saudável. Ao se comparar com eles, os telespectadores podem presumir que o
próprio excesso de peso é aceitável.
Outro fator
pode ser a dificuldade social de reconhecer que uma criança está acima do peso,
já que os pais temem provocar transtornos alimentares como anorexia nervosa ou
bulimia.
Um exemplo
dessa preocupação surgiu em 2011, quando o livro “Maggie Goes on a Diet” foi
publicado. Ele conta a história de uma adolescente gordinha que decide perder
peso para se sentir melhor, ficar mais saudável e praticar o esporte que ama. O
livro foi amplamente criticado por ser “perigoso”, sobretudo por quem não o
leu, já que a “dieta” no título supostamente se referia à restrição calórica.
No entanto, a personagem perde peso seguindo as recomendações que médicos e
nutricionistas sugerem há décadas: fazendo escolhas alimentares saudáveis e
praticando exercícios.
O temor de
incentivar uma criança a perder peso por medo de atitudes extremas é, em grande
parte, infundado. Transtornos alimentares, como a anorexia nervosa, são doenças
mentais desencadeadas por vários fatores, inclusive genéticos.
Em casos
raros – cerca de 1% da população que já tem uma predisposição para a doença –
as dietas de restrição calórica podem contribuir para a anorexia. Mas para a
grande maioria das pessoas que perde peso seguindo recomendações médicas –
dieta saudável e exercícios físicos –, os benefícios são muitos e o risco de
desenvolver transtornos alimentares é quase inexistente.
Preocupações
semelhantes surgiram em 2010, quando uma pesquisa constatou que as mulheres
obesas são até 60% mais propensas a desenvolver câncer, e que até um terço dos
casos de câncer de mama nos países ocidentais poderiam ser evitados se as
mulheres comessem menos e se exercitassem mais.
Como bem
observou a repórter da Associated Press, Maria Cheng, houve uma certa
relutância dos médicos em endossar o novo estudo. “Qualquer discussão sobre
excesso de peso e câncer de mama é delicada. A comunidade médica teme ser mal
interpretada, como se culpasse as mulheres pela doença”.
Cheng se
refere a um “tabu da gordura” generalizado: como a maioria das americanas está
acima do peso, se forem orientadas a emagrecer para reduzir o risco de câncer,
teme-se que elas se culpem se adoecerem.
O não
reconhecimento do excesso de peso ou da obesidade, sobretudo em crianças,
preocupa os médicos, já que os pais podem não tomar atitudes para resolver o
problema, trazendo consequências terríveis para a saúde.
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