Um conselho consultivo debateu na última quarta-feira uma nova e polêmica técnica, que utiliza o DNA de três pessoas para produzir embriões livres de uma doença hereditária.

O grupo de especialistas oferece consultoria independente para a FDA, agência reguladora de alimentos e remédios dos Estados Unidos, e avaliou se o procedimento é seguro para testes clínicos. Até o momento, a técnica só foi testada em embriões de macacos.

Os defensores da chamada “fertilização in vitro de três genitores” alegam que a técnica tem enorme potencial no campo da medicina, mas para seus detratores, ela pode incentivar a geração de “bebês sob encomenda”.
No centro do debate está a mitocôndria, estrutura onde é gerada grande parte da energia da célula, que contém o DNA dos 23 cromossomos do núcleo celular. A cada ano, entre mil e 4 mil crianças norte-americanas nascem com doenças mitocondriais, que costumam afetar o sistema nervoso central, causam cegueira ou problemas cardíacos. Essas doenças geralmente se manifestam antes dos dez anos de idade e são resultado de anomalias genéticas nas mitocôndrias, transmitidas da mãe para a criança.

A técnica consiste em substituir a mitocôndria que gera a doença pela mitocôndria saudável de outra mulher, antes que o óvulo seja fertilizado e implantado na mãe.
O criador do procedimento, Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Ciência e Saúde do Oregon, supervisionou a concepção de cinco macacos saudáveis e agora pretende conduzir testes clínicos em humanos.
Em 2001, cientistas norte-americanos utilizaram outra técnica de fertilização com três genitores, gerando cerca de 20 crianças, mas o FDA solicitou a suspensão do procedimento em humanos.

O Center for Genetics and Society, um grupo de Washington, opôs-se ao procedimento e organizou uma petição contra a sua aprovação. ”Trata-se de um processo biologicamente extremo, que coloca as crianças geradas em risco e infringe o consenso internacional, que desaprova a produção de seres humanos geneticamente modificados”, declara sua diretora, Marcy Darnovsky. ”A técnica levanta uma série de questões sociais e de segurança, e implica uma ampla variedade de riscos, previsíveis e imprevisíveis, para as crianças resultantes e as gerações futuras”, acrescenta.

Cerca de 40 países, incluindo nações avançadas em biotecnologia e biomedicina, adotaram leis que proíbem modificações genéticas semelhantes, enfatiza Darnovsky.
Susan Solomon, presidente da Fundação de Células-Tronco de Nova York, declarou ao Washington Post que as opiniões sobre o procedimento não deveriam se basear no medo do desconhecido. ”Ninguém está projetando bebês. Estamos tentando evitar uma doença terrível”, contra-argumenta.


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