Atrás dos
controles do trem da Metro-North que descarrilou em Nova York esta semana
estava um condutor cansado, William Rockefeller, que teria caído no sono
enquanto dirigia. A falta de sono poderia provocar um erro tão fatal?
Em termos
biológicos, sim, afirmam os especialistas. A falta de sono afeta o cérebro de
múltiplas formas, e pode comprometer o discernimento, reduzir o tempo de reação
e aumentar as chances de “sonhar acordado” durante tarefas monótonas.
“Quando
você dorme pouco, seu cérebro volta a ser o de um adolescente. É pura energia e
nenhum freio”, compara Michael Howell, neurologista da Universidade de
Minnesota, Twin Cities. “De repente, a parte do cérebro que diz ‘é melhor
refletir sobre isso’ não funciona direito”.
O objetivo
do sono há muito tempo intriga os cientistas, explica Maiken Nedergaard,
neurocientista do Centro Médico da Universidade de Rochester, em Nova York. Em
termos evolutivos, permanecer inconsciente por horas a fio torna as pessoas e
outros animais vulneráveis aos predadores. Ainda assim, não dormir o suficiente
pode levar à demência e à morte. A privação crônica do sono pode causar
obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e outros distúrbios.
Estudos
demonstram que pessoas exaustas se saem pior em testes de memória e têm mais
problemas de aprendizagem. Jogadores de basquete cansados, por exemplo, acertam
menos arremessos. Até mesmo golfistas que dormem mal precisam de mais tacadas
para concluir uma rodada.
“A falta de
sono compromete quase tudo”, alerta Howell. No caso dos acidentes, a falta de
sono afeta o funcionamento dos lobos frontais do cérebro, responsáveis pela
avaliação executiva ou a capacidade de prestar atenção e tomar boas decisões.
Segundo
Howell, exames comprovam que o fluxo sanguíneo diminui nas regiões frontais do
cérebro e as ondas cerebrais se tornam mais lentas em pessoas exaustas.
Como
resultado, a capacidade de reação é comprometida e as chances de cometer erros
aumentam. Quando os lobos frontais não funcionam adequadamente, as pessoas
também têm mais dificuldade de prestar atenção durante tarefas entediantes,
como dirigir um carro em uma rodovia – ou conduzir um trem.
Durante as
primeiras horas da manhã, horário do acidente com o trem da Metro-North, a
probabilidade de acontecer acidentes do tipo é maior, afirma Howell. A falta de
sono prejudica especialmente as pessoas cujos ritmos circadianos favorecem um
horário de trabalho mais tardio, já que têm uma dificuldade biológica de
funcionar de forma apropriada se acordarem usando um alarme às cinco da manhã.
Segundo
relatos, Rockefeller teria conduzido por vinte minutos depois da última parada
e se sentiu zonzo pouco antes do acidente, o que sugere que ele caiu no sono
antes do impacto, acrescenta Howell.
Recentemente,
os cientistas começaram a ter uma compreensão mais profunda do efeito
restaurador do sono. Em um estudo publicado na revista Science, Nedergaard e
colegas injetaram um corante verde em ratos para acompanhar o movimento do
líquido cefalorraquidiano, que envolve o cérebro.
Estudos
anteriores mostraram que o líquido recolhe os resíduos do funcionamento normal
do metabolismo. Em seguida, uma rede de minúsculos canais trabalha como uma
lava-jato, expulsando regularmente o líquido sujo e enviando-o para o fígado
para ser desintoxicado.
O novo
estudo descobriu que o sono facilita a expulsão do fluido tóxico, que foi drenado
bem mais lentamente no cérebro dos roedores privados do sono. Os neurônios são
muito sensíveis à presença de dejetos, explica Nedergaard. Quando os neurônios
são cercados pelo líquido contaminado, a comunicação no nível celular
provavelmente desacelera.
“No estudo,
descrevemos que esse sistema de limpeza microscópico é acionado quando
dormimos, o que ajuda a limpar o cérebro. Sob essa perspectiva, quando você
dorme pouco, seu cérebro fica sujo”, conclui Nedergaard.
Fonte: Discovery noticias
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