A última
moda em saúde é uma antiga técnica indiana, que consiste em bochechar durante
vinte minutos um óleo vegetal virgem, como de oliva, coco ou girassol, para
desintoxicar a boca (e o organismo).
A técnica é
bastante simples e os resultados, supostamente eficazes. Segundo o jornalista
científico Mike Rothschild, “o bochecho com óleo trataria dores crônicas,
insônia, cáries, alergias, trombose, diabetes, asma, mau hálito , gengivite,
problemas digestivos, meningite, falta de energia , doenças cardíacas e renais,
‘resíduos corporais tóxicos’, TPM, leucemia e até AIDS. Ao que parece, o
gargarejo com óleo é um verdadeiro milagre medicinal”.
Outros
relatos são mais realistas. Segundo um dos defensores da prática, “o bochecho
com óleo é um remédio antigo, que usa substâncias naturais para limpar e
desintoxicar os dentes e as gengivas. Também branqueia os dentes naturalmente,
e evidências comprovam que ajuda a remover bactérias prejudiciais. A ideia é
realizar bochechos diários com óleo durante um curto período de tempo para
melhorar a saúde bucal. A prática surgiu na Índia há milhares anos”.
O fato de a
técnica existir há milhares de anos é usado para comprovar sua eficácia, mas na
verdade, não significa nada. É um exemplo da falácia lógica denominada “apelo à
tradição”. Só porque uma prática perdura há centenas ou milhares de anos não
significa que seja válida. Por quase 2 mil anos, por exemplo, os médicos
praticaram a flebotomia por acreditar que o equilíbrio de fluidos corporais
inexistentes restauraria a saúde dos doentes.
A premissa
é completamente falsa e absurda, mas isso não fez diferença: os pacientes que
morreram estavam “doentes demais” (e não faleceram em decorrência do tratamento
médico ineficaz), e os que se recuperaram (apesar de, mas não por causa da
flebotomia) foram convencidos de que o tratamento era milagroso. É o mesmo
princípio que leva as pessoas a acreditar em superstições. Carregar um trevo de
quatro folhas ou um pé de coelho não traz sorte, mas as pessoas o fazem mesmo
assim.
No entanto,
os defensores da técnica indiana afirmam que os bochechos ajudam a eliminar as
toxinas do organismo através da boca: quando você cospe óleo, as toxinas vão
junto. Isso deve ser fazer algum bem, não? Nem tanto.
O mito da
“desintoxicação”
Para começo
de conversa, não é preciso usar óleo vegetal para “desintoxicar” dentes e
gengivas pelo simples fato de que dentes e gengivas não são tóxicos. Supostas
propriedades “desintoxicantes” tem sido muito lucrativas para as indústrias da
medicina alternativa e da Nova Era. O mundo está repleto de toxinas perigosas
e, para continuar saudável, você precisa eliminar periodicamente as impurezas
de seu corpo.
A chamada
“irrigação do cólon” desintoxicaria os intestinos para “melhorar a saúde,
garantir um estilo de vida mais ativo, e uma vida mais estimulante e
agradável”, segundo um site do gênero. Também há o antigo método de eliminação
de toxinas através da transpiração. Mas, contrariando a crença popular, a
sudorese não elimina toxinas, só ajuda a regular a temperatura corporal.
O fato é
que o corpo humano sabe muito bem como eliminar toxinas por conta própria,
recorrendo ao fígado e aos rins. Praticamente todos os produtos que alegam
limpar e desintoxicar o organismo são inúteis e desnecessários.
Portanto,
quais são os verdadeiros benefícios do bochecho com óleo? Provavelmente nenhum.
Apenas um punhado de estudos foram publicados, todos da Índia, e nenhum deles
parece comprovar benefícios consistentes. Não há nada de errado em fazer
gargarejos com óleos naturais. O óleo diluído de hortelã-pimenta, por exemplo,
é um antisséptico natural que deixa o hálito mais agradável e fresco. Mas não
há nada de milagroso ou particularmente saudável em fazer bochechos com óleo.
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