Todos os críticos de
cinema e escritores de ficção científica já devem ter dado sua opinião sobre o
filme Gravidade e, adivinhe? O consenso geral é que a criação de
Alfonso Cuarón é um daqueles filmes que não vão te deixar nem um pouco
entediado. Na verdade, Gravidade é muito mais, é um daqueles raros filmes que
impelem a humanidade a explorar o espaço sideral.
Há imprecisões
científicas, é claro. As esquisitices orbitais de George Clooney podem abalar
qualquer cérebro científico, mas as falhas de Gravidade são apenas o pano de
fundo de um filme excepcional.
Quando vi Ryan Stone
(Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney) flutuando em microgravidade,
não tinha certeza do que esperar. Já havia lido vários blogs e comentários no
Twitter, mas queria tirar minhas próprias conclusões e anotar cada erro
científico que encontrasse.
Em primeiro lugar, vi um
ônibus espacial acoplado ao Telescópio Espacial Hubble. Depois, percebi que a
Estação Espacial Internacional podia ser vista à distância (seguida, mais
tarde, pela Estação Espacial Chinesa, meramente a um passo de distância).
Ignorando o fato de que o
ônibus espacial foi aposentado em 2011 e de que a inclinação e a órbita do
Hubble e das duas estações são muito diferentes, ver todos esses objetos tão
próximos deu a impressão de que o espaço é lotado de coisas. Na verdade, é o
contrário. Cheguei a pensar que, talvez, o filme se passasse em uma realidade
alternativa.
Estava um pouco descrente
(e francamente indiferente) em relação às caminhadas espaciais de Kowalski e
sua tripulação. Tenho certeza de que rolar como um tambor com o jetpack (também
chamado de Unidade Tripulada de Manobra) e brincar com as amarras elásticas
dentro do compartimento de carga do ônibus espacial são atividades que não
constam do manual de voo.
A atenção concentra-se,
então, na engenheira médica Stone, trabalhando no telescópio Hubble presa ao
braço robótico do ônibus espacial. Quando ela se sente enjoada e olha para
baixo, vemos uma belíssima imagem do planeta Terra e entendemos sua luta.
Percebi que meu cérebro deixou os fatos de lado quando restos de satélites
matam um dos tripulantes e arremessam Stone para longe, em alta velocidade,
para ser resgatada depois por Kowalski. Quando me vi, estava sentado na borda
da cadeira, absorvido pelo drama.
A cada cena angustiante,
mergulhava cada vez mais no filme, curtindo cada momento. O pano de fundo com
as leis da física sendo ocasionalmente quebradas se impunha ao meu cérebro
cético. Mas percebi que, para fazer um filme tão grandioso e também atraente
para o público geral, Cuarón teve de encontrar o equilíbrio entre fato
científico, ficção e drama – um feito que ele conseguiu admiravelmente.
Astronautas descrevem que,
em seus passeios em órbita, sentem um forte desejo de entender seu lugar no
universo. Ver a terra de cima, delicada, faz isso conosco. Existe, de fato, um
fenômeno conhecido como “efeito da visão geral” (overview effect, em inglês)
que muitos astronautas descrevem como uma espécie de despertar espiritual.
Durante o filme, através de cada desafio que Stone tem de enfrentar, fica claro
porque Bullock foi escolhida para estrelar Gravidade. Ela sintetiza toda sua
humanidade em momentos de horror, depressão, euforia e contemplação. Como o
telespectador sente sua emoção, o “efeito da visão geral” não parece tão
estranho. Para mim foi especialmente pungente a sombria conclusão de que ela
estava prestes a morrer dentro da cápsula russa Soyuz.
Apesar do filme não poder
ser comparado com a elegância do clássico de 1968, 2001: Uma Odisseia no
Espaço, de Stanley Kubrick, Gravidade tem alguns momentos bem serenos que me impressionaram.
O simples desacoplamento da cápsula Soyuz, por exemplo, é uma reminiscência dos
incontáveis desacoplamentos que vimos pela TV da NASA, mas, desta vez, em alta
definição e 3D. O interior da estação espacial era surpreendentemente familiar e
a atenção com os detalhes, incrível. O efeito do fogo em microgravidade foi
muito bem executado. Adorei as belas imagens reais que foram usadas em alta
definição para mostrar o universo, incluindo sutilezas como o brilho
atmosférico. O uso do silêncio em momentos-chave torna o drama ainda mais
poderoso. Tudo isso acompanhado por uma trilha sonora que, sem dúvida, entrará
para a história dos filmes de ficção científica.
É moda desmascarar as
falhas científicas dos filmes deste gênero, mas as inúmeras críticas parecem
injustas para um filme tão bem realizado como Gravidade, que chegou a extremos
para tornar o espaço tão familiar quanto possível. Cuarón teve de fazer
concessões e forçar mais de uma vez o espectador científico a deixar de lado
sua descrença, mas não acredito que isso tenha impactado a história ou a emoção
desse incrível passeio orbital. Sem dúvida, a atuação de Sandra Bullock pode
lhe render um Oscar (e o filme pode concorrer è estatueta na categoria de
efeitos especiais).
Acima de tudo, Gravidade
me fez pensar sobre os homens e as mulheres que trabalham em órbita e arriscam
suas vidas para o bem da humanidade. Mike Massimino, um astronauta da
NASA, também assistiu ao filme e usou o Twitter para dar sábios conselhos de
como encarar Gravidade: “Sugiro que as pessoas usem #Gravidade como
inspiração e motivação para saber o que realmente acontece no espaço” #ISS –
Mike Massimino (@Astro_Mike) 9 de outubro de 2013. “Espero que #Gravidade
inspire os jovens a estudar algo de que gostem, assim como eu fui inspirado por
Os Eleitos” (@Astro_Mike) 9 de outubro de 2013.
Fonte:
Discovery noticias
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