Nos últimos
meses, cientistas descobriram uma nova camada da córnea do olho humano e um
ligamento do joelho que passou despercebido por um longo tempo. Na era
moderna, repleta de avançadas tecnologias de visualização, como é possível que
ainda não saibamos tudo sobre a anatomia humana?
Segundo
especialistas, apesar de nossa longa história de fascínio pelo corpo humano,
ainda existem brechas nos conhecimentos anatômicos porque somos criaturas
extremamente complexas. Além disso, há muitas variações de uma pessoa para
outra. A realidade é bem diferente das fotos nítidas e coloridas dos livros de
anatomia, e quando os estudantes de medicina começam a dissecar cadáveres, essa
complexidade pode ser perturbadora.
“Quando os
alunos abrem um cadáver pela primeira vez, é muito difícil e confuso”, descreve
Daniel Schmitt, antropólogo evolucionário e diretor do curso de anatomia humana
da Universidade de Duke, em Durham, na Carolina do Norte (EUA).
“É como
observar um quadro pontilhista onde só se vê os pontos. É como entrar em uma
cidade nova, um novo país, um novo mundo. Eles simplesmente não conseguem
prever como será. É lindo, mas a primeira reação de muitos alunos é: ‘É difícil
demais, não consigo fazer isso’”, conta.
Gradativamente,
explica Schmitt, surgem regras e padrões. Depois da especialização, os médicos
aprendem onde procurar as estruturas que costumam aparecer nas mesmas áreas
genéricas em cada pessoa.
Mas mesmo
quando os cirurgiões detêm conhecimentos complexos sobre partes específicas do
corpo, eles estão acostumados a esperar o inesperado. “Há um músculo do braço
chamado palmaris longus, por exemplo, que não existe em cerca de 15% da
população. Algumas pessoas têm o músculo em um braço, mas não no outro”, diz
Schmitt.
Em geral,
os cirurgiões são obrigados a tomar decisões no calor da hora quando descobrem
que as veias ou nervos de um paciente percorrem caminhos diferentes do que
esperavam. “A variedade humana é extraordinária”, comenta Schmitt . “Cada
pessoa é única”.
Steven
Claes, especialista em cirurgia de joelho da Universidade de Leuven, na
Bélgica, enfrenta diariamente um problema intrigante. Depois de se submeterem a
cirurgias reparadoras do ligamento cruzado anterior (LCA), um dos quatro
principais ligamentos do joelho, muitos de seus pacientes não conseguem
alcançar o nível original de desempenho esportivo. Nesses casos, tendem a
sofrer de uma curvatura instável nas articulações, conhecida como frouxidão
rotacional.
Convencidos
de que devia estar faltando alguma coisa, apesar dos anos que passaram
aprimorando suas técnicas, Claes e seus colegas decidiram se concentrar na
parte externa do joelho, que em termos biomecânicos, seria a base do controle
da rotação. Em um artigo escrito por um cirurgião francês em 1879, os
pesquisadores descobriram uma breve menção a um ligamento fibroso na parte
externa da articulação, que sofre grande pressão durante movimentos giratórios.
Apesar de a
existência desse ligamento ter sido amplamente discutida, ninguém publicou
fotografias ou o descreveu em detalhes. Para confirmar sua teoria, Claes e sua
equipe executaram uma meticulosa série de dissecações nos joelhos de 41
cadáveres. Em 40 deles, segundo relataram na revista Journal of Anatomy,
descobriram uma estrutura nítida, de 5 centímetros de comprimento, que chamaram
de ligamento anterolateral (LAL).
As novas
descobertas sugerem que o LAL pode auxiliar os cirurgiões ortopédicos a obter
bons resultados na reparação do ligamento cruzado anterior.
Um dos
motivos prováveis para que o LAL tenha sido ignorado por tanto tempo é que
os procedimentos artroscópicos impedem uma visão mais abrangente e detalhada do
joelho, explica disse Claes. Mas também é possível que os médicos estejam vendo
apenas o que estão procurando.
Segundo
Schmitt, à medida que os pesquisadores refinam seus estudos sobre a anatomia
humana, é provável que descubram novas nuances. As descobertas virão tanto da
dissecação das articulações como das novas tecnologias de visualização, que
revelaram uma nova camada da córnea no início deste ano.
Fonte:
Discovery noticias
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