A parábola bíblica do Bom Samaritano, um viajante que para em uma estrada para ajudar a vítima de um roubo, gravemente ferida, depois que outras pessoas se recusam, é uma história recorrente nos noticiários.

Em Fort Lauderdale, na Flórida, um homem salvou uma mulher de se afogar depois que ela perdeu o controle de seu carro, que capotou em uma vala cheia de água. No Arizona, uma pessoa não identificada encontrou e devolveu a carteira de um estudante universitário com dinheiro, cartões de crédito, carteira de estudante e uma permissão de trabalho para imigrantes. Em Oklahoma, um adolescente caiu do skate e sofreu uma concussão, mas um homem que ele não conhecia o encontrou ao lado da estrada e o ajudou.

O que motiva as pessoas a parar e ajudar desconhecidos, sem qualquer benefício aparente para elas mesmas?

Pessoas com comportamentos pró-sociais – ou seja, atos voluntários que beneficiam outras pessoas ou a sociedade como um todo – são tradicionalmente motivadas pelo caráter moral ou por crenças religiosas. Nos últimos anos, contudo, surgiram evidências que sugerem que a tendência a ajudar pode ser influenciada pelos genes.

Em um estudo recente publicado pela revista Social Neuroscience, por exemplo, os cientistas descobriram que a simples variação de um genótipo parece determinar se uma pessoa tem ou não propensão a se envolver em atos pró-sociais. Indivíduos com uma variante desse genótipo apresentam certa ansiedade social – ou seja, mal-estar quando estão próximos a outras pessoas – e são menos inclinados a ajudar os outros de uma forma que exija interação pessoal.

Em contrapartida, indivíduos que possuem outra variação são menos ansiosos e também mais propensos a ajudar. A região genética envolvida é a 5-HTTLPR, que regula o transporte de um dos neurotransmissores do cérebro, a serotonina. Os pesquisadores estudaram o genoma de 398 universitários e pediram que respondessem a um questionário para fornecer informações sobre seu comportamento e níveis de ansiedade.

O psicólogo social Gustavo Carlo, da Universidade do Missouri e um dos coautores do estudo, disse que a variação do genótipo é apenas uma “via indireta” que pode levar alguém a ser um Bom Samaritano. Ele acrescentou que a capacidade do cérebro de usar a dopamina, outro neurotransmissor, é mais uma influência potencial. Variações genéticas na química do cérebro também podem desempenhar algum papel.

“Esse é um campo de pesquisa realmente empolgante”, disse Carlo. “Vários estudos realizados neste momento se concentram nos processos microscópicos associados ao comportamento altruístico”.

O coautor do estudo, Scott F. Stoltenberg, pesquisador do Laboratório Lincoln de Comportamento Genético da Universidade de Nebraska, diz que a descoberta baseia-se em pesquisas anteriores que sugerem uma conexão entre os níveis relativos de ansiedade e o comportamento pró-social.

“Faz sentido que pessoas com menos ansiedade social estejam mais propensas a ajudar”, explicou Stoltenberg. “Diante de uma situação em que alguém precisa de ajuda, essas pessoas não tem problemas em se envolver. Por outro lado, alguém com ansiedade social pode se sentir um tanto desconfortável e evitar a situação”.

A serotonina e a dopamina são neurotransmissores relacionados com a sensação de prazer e satisfação. Isso pode explicar por que as pessoas que realizam atos altruístas alegam sentir-se bem.

Carlo alertou que os resultados do estudo não significam, necessariamente, que pessoas com predisposição genética para a ansiedade não têm empatia ou capacidade de se preocupar com os outros. Embora seja mais difícil se envolverem em atos públicos de comportamento pró-social, essas pessoas podem, sem dúvida, fazer contribuições anônimas para alguém que precisa, ou ajudar de outras formas que não requeiram interação pessoal.

Os motivos pelos quais os seres humanos desenvolveram a capacidade de serem Bons Samaritanos é outra questão amplamente debatida. Na década de 1970, o biólogo evolucionista Richard Dawkins, defensor da noção de que os “genes são egoístas”, argumentou que o comportamento pró-social existe para garantir a continuidade genética. Sua visão foi influenciada por estudos que sugeriam que os organismos tinham mais probabilidade de ajudar seus próprios “parentes”.

Mas, como os psicólogos da Universidade Estadual de Ohio Baldwin M. Way e Kyle G. Ratner descreveram, em um ensaio publicado na mesma revista em que Carlo divulgou seu estudo, a visão de Dawkins falha nos casos em que pessoas ajudaram outras com as quais não se relacionavam de perto, e fizeram isso sem nenhuma vantagem genética aparente para si mesmas.

Estudos anteriores indicaram que a tendência para o comportamento pró-social é, pelo menos em parte, hereditária – ou seja, passada geneticamente de uma geração para outra – em vez de ser apenas o resultado da influência moral de pais e professores. Um estudo de 2007 com gêmeos coreanos, por exemplo, descobriu que aproximadamente 55% da variabilidade do comportamento pró-social parece ser genética, e que a ligação genética parece aumentar à medida que as crianças ficam mais velhas.






  Fonte: Discovery noticias


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