Há alguns dias, você
pôde conferir aqui no Mega Curioso sobre o ônibus
movido a um tipo diferente de combustível que fez a sua estreia nas
ruas de Bristol (na Inglaterra). Esse veículo britânico foi produzido para
funcionar à base de energia gerada pela combustão de um material obtido da
decomposição de lixo orgânico, esgoto e fezes.
Sim, o cocô está sendo
usado como combustível e de uma forma muito eficiente com o gás biometano, que
é derivado desse resíduo humano e passa por uma estação de tratamento, é claro,
e não há nenhum sinal de cheiro desagradável exalando do ônibus. Mas, será que
existem outros usos para as fezes humanas e também para a urina?
De acordo com um artigo de
Sarah Jewitt, do The
Conversation, esse é um assunto muito complexo, já que a maioria das sociedades
associa as necessidades fisiológicas com algo nojento e malcheiroso (o que não
deixa de ser mesmo).
Além disso, as fezes (e
toda a gama de bactérias e doenças que podem carregar) ameaçam a saúde de cerca
de milhares de pessoas que convivem em áreas sem saneamento básico.
No entanto, esses dejetos
também podem representar um importante recurso, que já foi usado aos montes de
diferentes formas ao longo da história e até na atualidade. Confira abaixo mais
alguns usos das fezes e urina de humanos:
A versatilidade da urina
Rica em amônia, a urina é
um líquido particularmente versátil e pode ter vários usos. Por exemplo, na
Europa Medieval, o famoso xixi foi amplamente utilizado para limpar roupas,
enquanto os romanos utilizaram-no para curtimento de couro e limpeza de lã.
Claro que tudo isso não devia ficar lá muuuito cheiroso não é, mas pelo jeito
funcionava para esses fins.
De acordo o The
Conversation, a urina também produz um excelente fertilizante agrícola.
Antes da realização do século 19, de que dejetos humanos eram um risco para a
saúde, o esgoto era rotineiramente transportado de cidades para aldeias para
utilização como adubo.
A questão é que a maioria
dos riscos para a saúde só pode ser eliminada se a urina (inofensiva, mas
desagradável) e as fezes (cheias de doenças) forem separadas na fonte através
de alguma forma ainda nas instalações sanitárias.
Esse tipo de tratamento é
ideal em termos ambientais e econômicos, pois a urina produzida anualmente por
cada adulto contém nutrientes que podem ser benéficos para plantas em uma
quantidade suficiente para cultivar cerca de 250 quilos de grãos, que seriam o
suficiente para alimentá-los também por um ano.
A ideia dos banheiros que
separam os dejetos já está sendo usada em alguns países algum tempo, como a
China, que utiliza esse sistema para coletar urina para o uso como
fertilizante. Além desse país, em algumas regiões da Suécia, esses sanitários
são agora obrigatórios para a melhoria da qualidade ambiental, bem como para a
criação de uma economia significativa nos custos de fertilizantes para os
agricultores.
O poder do cocô
Segundo o The
Conversation, o conceito do biogás a partir de resíduos humanos não é um novo,
pois os assírios usavam-no para aquecer a água do banho no século 10 antes de
Cristo. No entanto, o potencial de gerenciar simultaneamente os dejetos e a
geração de energia a partir deles tem atraído cada vez mais atenção nas últimas
décadas.
Atualmente, os tratamentos
de resíduos que existem ainda deixam para trás um tipo de lodo de depuração que
tem sido difícil de eliminar. No entanto, quando esse material é colocado em um
grande recipiente e deixado para “digerir” (como uma planta de digestão
anaeróbia), ele pode produzir biogás valioso e resíduo rico em nutrientes.
Enquanto o biogás pode ser
usado diretamente como combustível limpo para criar o biometano ou até para
gerar eletricidade, o resíduo rico em nutrientes pode ser usado como fertilizante
ou condicionante do solo, ajudando no processo de redução das emissões de
metano, promovendo o crescimento vegetal e captando carbono através da
fotossíntese.
Em áreas rurais da China,
os sistemas de biogás desempenham um papel importante na eliminação de agentes
patogênicos mesmo com métodos de saneamento de baixa tecnologia, proporcionando
combustível limpo para uso em fogões de cozinha e fertilizantes com os resíduos
anaeróbios.
A Suécia e Alemanha também
são grandes usuários dos resíduos anaeróbios. Na Alemanha, por exemplo, as
estações de águas residuais podem vender sua energia excedente para a rede
nacional e o custo atraente promove as energias renováveis.
Já no Reino Unido, a
indústria de biogás fica atrás de países como Suécia e Alemanha, porém algumas
obras de esgoto já estão liberando biogás na rede nacional e há muito potencial
de crescimento.
O uso nos transportes e
até na comunicação
Um futuro com a utilização
completa do biometano como combustível seria ideal. Isso porque os benefícios são
muito claros: o biometano produz 95% menos emissões de CO2 e 80% menos óxido
nitroso do que o diesel, bem como não tendo as emissões de partículas. Essas
porcentagens tão reduzidas seriam essenciais para o meio ambiente.
Há quatro anos,
engenheiros desenvolveram um Volkswagen Beetle movido a esse gás gerado na
estação de tratamento Avonmouth perto de Bristol. É esta mesma planta de esgoto
que já está alimentando o apelidado de “ônibus do cocô” e que poderia produzir
ainda mais, podendo atender às necessidades de gás até para o uso em 8,3 mil
casas.
Na Suécia, a política de
transportes tem priorizado o desenvolvimento de biometano para caminhões e
ônibus, sendo uma iniciativa que tem ajudado a limpar o ar e cumprir as metas
de energias renováveis.
Já de uma forma mais
experimental, pesquisadores do Laboratório de Robótica de Bristol conseguiram
carregar a bateria de um telefone celular usando a eletricidade gerada a partir
da urina.
Eles fizeram isso usando
uma pilha de combustível microbiano, conseguindo tirar proveito do metabolismo
de micro-organismos vivos para criar eletricidade a partir da conversão de
matéria orgânica, da urina.
Outras equipes de pesquisa
têm trabalhado em tecnologias similares de conversão, conseguindo já gerar
eletricidade, água limpa e hidrogênio a partir de dejetos humanos. Uma boa
expectativa para um futuro com energia renovável e, com certeza, de
matéria-prima abundante.
Fonte:
MegaCurioso
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