O primeiro
sequenciamento genômico dos ossos de um homem que viveu no norte da Espanha,
antes do advento da agricultura, revelou que ele tinha olhos azul-escuros, pele
morena, intolerância à lactose e era imune a doenças.
As
descobertas sobre nosso ancestral do Mesolítico, conhecido como Homem de La
Braña, sugerem que ele representa uma transição – ainda em andamento – para os
humanos de pele mais clara que bebem leite, surgidos nos últimos milênios.
O genoma do
esqueleto, com idade estimada em 7 mil anos, sugere que ele adquiriu imunidade
a doenças que supostamente só afetariam os humanos mais tarde, resultado do
contato dos europeus com animais domésticos. Os resultados surpreenderam os
pesquisadores, que esperavam que o espanhol pré-histórico tivesse a pele mais
clara e um conjunto mais antigo de alelos, ou grupos de genes, ligados à
imunidade.
“O que nós
descobrimos foi justamente o contrário”, explica Carles Lalueza-Fox, um dos 24
autores do estudo, em artigo publicado em 26 de janeiro na revista Nature. “E
não temos certeza do que isso significa”.
Outros
pesquisadores concordam que a imunidade precoce do homem de La Braña é
especialmente intrigante.
“A parte
mais surpreendente e interessante é que foram detectados alelos derivados de
genes de resistência a patógenos”, comenta Albert Zink , diretor do Instituto
de Múmias e do Homem de Gelo, de Bolzano, Itália. “Isso pode lançar uma nova
luz sobre a evolução e a interação com doenças nas populações humanas. Isso é
de particular interesse, já que outros estudos confirmam que algumas doenças
infecciosas, como a tuberculose, já existiam bem antes do Neolítico e não
necessariamente tinham origem animal”.
A cor azul
dos olhos também foi inesperada, mas menos problemática. “Costumamos pensar que
ambas as coisas (a cor da pele e a dos olhos) estão relacionadas, mas na
verdade, elas provêm de genes diferentes”, explica o pesquisador.
Também não
está claro se havia alguma vantagem evolutiva em ter olhos azuis. Eles podem
ser resultado de uma alteração genética aleatória e não ter qualquer finalidade
específica. Já a cor da pele seria uma adaptação a diferentes quantidades e
intensidades de luz solar.
Segundo o
pesquisador, é impossível confirmar o quanto a pele do Homem de La Braña era
escura, mas é evidente que ele era bem mais moreno que os espanhóis modernos, e
que seu genoma é muito diferente do da população atual do país europeu.
A
intolerância à lactose foi o único aspecto que não surpreendeu os
pesquisadores, já que os caçadores e coletores não bebiam leite depois do
desmame, assim como todos os mamíferos e humanos modernos, com exceção dos que
vivem em culturas que consomem leite.
Os ossos do
estudo vieram de um esqueleto encontrado em uma caverna gelada, localizada a
1.500 metros de altitude, nas montanhas do norte da Espanha. O frio foi
fundamental para manter o DNA intacto por tanto tempo, o que também explica
porque há tão poucos homens pré-históricos bem conservados e com genomas tão
completos nas regiões mais quentes do sul da Europa, explica Lalueza-Fox.
Fonte:
Discovery noticias
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